
Uma a cada três mulheres brasileiras com mais de 16 anos já sofreu violência física ou sexual de atuais ou ex-parceiros
A ex-promotora do Ministério Público de São Paulo, Gabriela Manssur e Andrea Mannelli, ativista pelo direito das mulheres e co-produtora executiva do documentário João de Deus da Netflix participaram do encontro debate realizado pelo LIDE Paraná: A importância de criar um ambiente seguro para as mulheres nas empresas.
A pauta feminina é crucial e não pode ser ignorada, especialmente quando se trata de criar um ambiente de trabalho seguro para as mulheres. De acordo com a ONU, 70% das mulheres em todo o mundo já experimentaram ou experimentarão algum tipo de violência em um determinado momento de suas vidas, independentemente de sua nacionalidade, cultura, religião ou condição social.
O encontro reuniu empresários(as) e colaboradores estratégicos das empresas filiadas ao LIDE Paraná para ouvir Manssur, uma das maiores autoridades no combate à violência contra a mulher no Brasil, e o relato de Mannelli sobre os abusos e o processo doloroso de superação após as denúncias contra João de Deus.
Em 2019, Gabriela foi reconhecida pela Forbes como uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil devido ao seu trabalho na luta contra a violência contra a mulher. Durante o encontro, ela destacou a importância de compreender as condições enfrentadas pelas mulheres em suas carreiras e de incentivar a criação de oportunidades para que elas possam ocupar cargos com segurança.
A ex-promotora é fundadora e presidente do Instituto Justiça de Saia, que trabalha na defesa das vítimas de violência doméstica e promove a inclusão no mercado de trabalho. ”A maioria delas prefere não denunciar por medo de não poder sustentar os seus filhos. A empregabilidade para essas mulheres. permite que elas se libertem”, falou a Gabriela.
Mais recentemente, foi criado pelo grupo um canal de denúncias por meio de caixas de leite UHT. As embalagens das marcas Parmalat, Elegê, Batavo e Itambé trazem impresso um QR Code. Ao escanear, será possível acionar uma rede de apoio multidisciplinar que inclui profissionais das áreas da justiça, saúde e psicologia, entre outras, e conseguir ajuda em situações de risco. “Queremos atingir milhões de mulheres com as caixas. Uma forma de atender as vítimas sem que o agressor percebe”, ressaltou Manssur.
Andrea Mannelli e o Caso João de Deus
Andrea é uma das vítimas do médium João de Deus, que foi condenado por crimes sexuais, mas cumpre pena em regime domiciliar. Ela trouxe ao público toda a sua angustia com o caso. Mannelli contou que logo após receber a notícia do diagnóstico de câncer da sua mãe – que depois foi revisto como benigno – foi a primeira vez que ouviu falar de João Teixeira. A ideia de que um médium poderoso poderia curar encheu de esperança a família.
Quando chegou à Casa Dom Inácio de Loyola, estava emocionalmente abalada e vulnerável, após passar por uma peregrinação de médicos, informações desencontradas, desgaste, falta de perspectiva e medo. “O primeiro impacto ao chegar lá foi de paz, tranquilidade, afeto e empatia, pois vi uma multidão de pessoas vestidas de branco, rezando e emanando boas energias”, relatou a Andrea.
Durante o depoimento a ativista falou como foi convencida pelo médium que aquilo era a única forma de curar sua mãe, e que contar sobre o abuso iria prejudicar o processo de cura. Somente após ver a reportagem exibida no programa “Conversa com Bial”, da Rede Globo, em dezembro de 2018, que Andrea percebeu o que realmente havia acontecido. No programa dez mulheres acusaram o líder religioso João de Deus, de 80 anos, de abuso sexual. A partir desses relatos, outras centenas de denúncias foram registradas na Polícia Militar e no Ministério Público.
No dia 16 de dezembro de 2018, João de Deus teve sua prisão preventiva decretada. Com o avanço das investigações ao longo desses cinco anos, o médium foi condenado por crime sexual, estupro, estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude e posse ilegal de arma de fogo, somando pena de mais de 270 anos de prisão.
A defesa do condenado recorreu à Justiça em relação à sentença e conseguiu que ele cumprisse a pena em regime domiciliar, usando a idade dele como justificativa. O recurso foi acatado e, com isso, ele segue cumprido a pena em sua casa em Anápolis, Goiás, até este momento.
Para disseminar a história desse violentador e apoiar outras mulheres, Andrea participou da criação e produção do documentário sobre João de Deus. “O Brasil ocupa a quinta posição na lista dos países mais violentos para as mulheres. A gente não vai sair dessa posição se não denunciarmos todos os abusos. Foi por isso que eu decidi fazer o projeto da Netflix. Mesmo sendo um momento de muita exposição, eu achei importante mostrar que a violência está em todos os lugares e muitas vezes travestida de coisas boas”, alertou.
A presidente do LIDE Paraná, Heloisa Garrett falou sobre a importância de encontros como esse na gestão das empresas. “O assédio sexual acontece em todos os espaços. As instituições devem refletir para atuar sobre a crença de que o assédio é um problema da vítima, e não uma responsabilidade coletiva. Identificar e medir os problemas, bem como encontrar maneiras de mitigá-los, é um dos maiores desafios enfrentados pelas empresas hoje em dia. Enquanto as vítimas continuarem a ser invalidadas, os agressores permanecerão confiantes na impunidade”, ressaltou.
LIDE Paraná
Integrante do Sistema LIDE – Grupo de Líderes Empresariais, o LIDE Paraná atua na construção de uma agenda positiva voltada ao fortalecimento da economia daquele que é considerado o segundo estado mais competitivo do Brasil, segundo a The Economist Intelligence Unit.
Ciente do potencial de crescimento das empresas da região, o LIDE Paraná se posiciona como um hub de negócios para a promoção de oportunidades de investimento, desenvolvimento econômico e social e construção de conexões únicas, estimulando as interações e o networking empresarial. Volta-se, ainda, à discussão de temas econômicos e políticos de interesse nacional.
A regional paranaense do LIDE também conta com a Casa LIDE, localizada no bairro Batel, em Curitiba (PR), que funciona como um business club exclusivo para os filiados do estado. Trata- se de um projeto pioneiro que consolidou a primeira Casa LIDE do sistema.